terça-feira, 28 de abril de 2009

O ENTRECRUZAMENTO DAS ARTES DA ESCRITA COM AS ARTES PLÁSTICAS

•A fusão da poesia com as artes plásticas foi extremamente positiva devido a escrita ganhar forma na poesia concreta através do ideograma, evoluindo no sentido de se tornar uma arte cada vez mais apreensível pela visão caminhando para o silencio das artes visuais. A pesquisa que tenho vindo a desenvolver não conduziu a um trabalho de continuidade sobre a escrita, mas à libertação poética do desenho. Criei um novo alfabeto onde a ilegibilidade da escrita é indagada no sentido do abandono do conteúdo semântico das palavras, revelando-as como formas, onde o desenho ganha maior relevância. Procuro estudar a escrita pela sua assunção como imagética, o traço afirma a sua autonomia e a sua vitalidade formal, mas no entanto não abandona a sugestão de escrita que apela a decifração.
O risco identifica-se com a letra, gozam ambos do mesmo estatuto semiológico, um e outro enquanto gestos, enquanto sinais. Na pintura o seu significado não é linguístico é pictural.


As artes plásticas são o testemunho daquele que tem algo para comunicar, mas que não consegue porque as letras são invólucros construtores e só mediante a explosão delas a significação total se liberta, carregada de matérias emotivas, só que no acto se explodirem elas se libertam e não mais como elementos linguísticos.
Ao explorar a beleza plástica da letra, vemos que através da sobreposição de gestos pictóricos cumulativos, acabamos também por escrever um poema cujo tema obsessivo é a luta com as palavras, com as formas que podem ser lidas plasticamente, sem nos preocuparmos com seu significado. São obras que se afastam dos seus modelos, até ao ponto de destruírem as possibilidades de reconhecimento das matrizes, ou seja, destruindo a possibilidade de leitura.
Porém somos de novo conduzidos a um campo de retorno, é que estas obras, que se mostram não como textos mas como imagens, não deixam de existir presas ao fio interpretativo que nos é fornecido pela disciplina perceptiva que a tradição da leitura textual nos impõe.
Devemos olhar para a globalidade da imagem e/ou procurar nela campos de decifração de texto?....

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